Por Aleluia, Hildeberto
Televisão, computador, celular, iPad, todas essas traquitanas que você vive de olho e não consegue viver sem, estão todas de olho em você. Em nós. E tem mais, silenciosamente todos os provedores de serviços on-line constroem dossiês sobre os hábitos de seus usuários. Com esses dados, os gigantes da era tecnológica, na surdina, pesquisam e avançam para a criação da máquina pensante que irá interagir com nosso cérebro. Além, é claro, de saberem tudo sobre nós. Nem mesmo as agências de espionagem dos regimes totalitários sonharam com isso. Todos os nossos passos, desejos, anseios, vontades, laços de ternura e de ódio, com quem mais falamos e onde mais gostamos de ir, enfim, tudo está devidamente catalogado e armazenado. É a nova matéria-prima do capitalismo na opinião do professor Eben Moglen que leciona Direito na Universidade de Columbia, em Nova York e é o diretor do Centro Legal para Software Livre. Isso porque toda essa parafernália moderna nada mais é que um gigantesco banco de dados. E o mais curioso: na medida em que o monitoramento dos usuários se torna mais abrangente e agressivo, pequenas empresas e os gigantes de tecnologia já começam a oferecer um novo produto nas praças: privacidade. Como os dados são um novo tipo de moeda, as empresas oferecem proteção à bisbilhotagem on-line ou até mesmo pagamento por seus dados e detalhes pessoais para serem usados por empresas de marketing.
O Wall Street Journal produziu recentemente uma série de reportagens sob o título “O QUE ELES SABEM”, sobre o monitoramento na internet. Descobriu um número expressivo de empresas em crescimento que coletam informações altamente pessoais na internet, desde atividades corriqueiras a opiniões políticas, preocupações com a saúde, hábitos de compra, situação financeira e até seus nomes. Esses dados vão alimentar a poderosa indústria de publicidade on-line que só nos Estados Unidos, nesse ano de 2011, irá movimentar mais de 30 bilhões de dólares. Os investidores de capital de risco já farejaram e estão despejando caminhões de dinheiro em empresas de publicidade de monitoramento on-line, apesar das preocupações do público com violações da privacidade e possíveis restrições governamentais. Segundo o Journal, desde 2007 as firmas de capital de riscos já investiram 5 bilhões de dólares em 356 empresas de publicidade on-line. A maioria das novas empresas atrai investimentos porque almeja a ligação dos operadores de sites a anunciantes que desejam oferecer anúncios personalizados e por isso buscam cada vez mais dados sobre as pessoas. Imaginem o potencial do Google, do Facebook, da Apple, da Motorola e outras. Sim, porque cada uma delas é um network onde o usuário é refém do sistema operacional e lá armazena todos os seus dados, hábitos e comportamento de uma maneira geral, inclusive o registro de onde esteve e quando isso ocorreu. Até mesmo a televisão já incursiona por estes caminhos.
As empresas de monitoramento de informações já assessoram anunciantes e veículos contrapondo de maneira detalhada as preferências televisivas dos espectadores com outros dados pessoais. Até informações sobre receitas médicas são coletadas e usadas para ajudar os anunciantes a veicular anúncios personalizados em programas assistidos por determinado tipo de pessoa. Ao mesmo tempo, as empresas de TV a cabo e satélite testam e distribuem novos sistemas projetados para exibirem às famílias anúncios altamente personalizados. As Tvs perseguem a mesma meta sofisticada da tecnologia de monitoramento que é usada amplamente nos computadores e celulares. O grupo de TV a cabo americano Cablevision Systems Corp já opera um sistema que pode exibir propagandas inteiramente diferentes em tempo real para seus assinantes. Ela pode distribuir anúncios personalizados para todos os 3 milhões de assinantes da empresa na região que engloba os Estados de Nova York, Connecticut e Nova Jersey. Desde passagens aéreas a automóveis e utensílios domésticos. As operadoras de celular já usam as mesmas técnicas para prever - com base nos círculos de amigos de um cliente - quem é mais propenso a migrar para a concorrência. No Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o respeitado e disputado MIT, o laboratório de dinâmica humana vem acompanhando 60 famílias que residem no campus da instituição.
São usados sensores nos celulares que registram movimentos, relacionamentos, humor, saúde, hábitos ao telefone e gastos do usuário. Na montanha de detalhes íntimos recolhidos, eles identificam padrões de comportamento que revelam como se portam milhões de pessoas em casa, no trabalho e nas horas de lazer. Por esse método locais como a favela nunca mais serão desconhecidos. Nem bairros, nem cidades e tampouco os países. Operadoras de celular da Europa e da África doaram grandes blocos de registros de ligações para uso em pesquisas. Dizem que apagaram nomes e dados pessoais. Mas a Apple, o Google e o Facebook, por exemplo, não necessitam apagar nada para estudar o comportamento de seus usuários. A Apple (iPhone) e o Google (Sistema Android) informam que os usuários podem desativar o sistema de localização de seus celulares se quiserem. No Estado americano do Novo México, o Instituto Santa Fé trabalha pesquisando dados de 220 operadoras de celular de 80 países, informa Nathan Eagle, chefe da pesquisa. Seu conjunto de dados reúne 500 milhões de pessoas na América Latina, Europa e África. Com mais gente cada vez mais acessando a internet pelo celular, o universo digital de detalhes pessoais canalizados por esses aparelhos cresce numa velocidade impressionante e abre mil e uma possibilidades.
Aleluia, Hildeberto é jornalista
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