TODOS MENTEM. E NADA ACONTECE
Fábio P. Doyle, Jornalista
Da Academia Mineira de Letras
A falta de respeito à verdade, o achincalhe da lei, da justiça, o deboche dos que ignoram as proibições impostas pela legislação eleitoral, as trapaças praticadas pela rabulice sensacionalista, o silêncio imposto aos que poderiam contribuir para a apuração de um crime. Este o retrato do Brasil neste 2010.
NINGUÉM mais respeita ninguém. Nem a lei. Nem a verdade. Nem os compromissos assumidos. Nem os documentos assinados. Nem a evidência dos fatos. Nem as declarações feitas. Nem o interesse público. Não se respeita a autoridade policial. Nem o poder Judiciário. Descumpre-se tudo, e nada acontece.
O DESRESPEITO é geral, generalizado, atinge a tudo e a todos. Infelizmente, o exemplo vem lá de cima. Da presidência da República. Que infringe a lei eleitoral e debocha das punições impostas, ridículas multas de alguns reais. Que ameaça os que procuram, cumprindo suas obrigações funcionais, fazer obedecidos os limites da lei. Que chama uma procuradora que cuida de fiscalizar e punir os transgressores, de "uma procuradora qualquer". Um presidente que transgride a lei, é punido com a multa irrisória, para no evento seguinte, reconhecer o erro, pedir desculpas, e repetir a transgressão com o desplante de sempre, sorrindo feliz com a audácia costumeira. Cita novamente o nome de sua candidata, diz o que ela teria feito em benefício do país, defende sua eleição, tudo isso diante da platéia que o aplaude. Na platéia, ou melhor, na mesa que presidia o evento, estava o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, algo contrafeito com a situação, o ministro Ricardo Levandowski. Procurado pelos jornalistas presentes, que queriam saber o que ele faria diante da nova infração praticada em sua presença, respondeu apenas que a Justiça Eleitoral só se pronuncia quando provocada na forma regimental. Ou seja, alguém deveria acionar a corte que ele preside para que ela se manifestasse a respeito. E ficou tudo por isso mesmo.
DESRESPEITO, também, da candidata do presidente, sra.Dilma Rousseff, que assinou, e mandou protocolar no TSE, o plano do governo que pretende executar, se eleita. Plano que contém propostas radicais e extremadas, inclusive abolindo quaisquer medidas restritivas às invasões de propriedades rurais e instituindo o controle da imprensa por organismos governamentais. Diante da reação que o plano provocou na opinião pública, mandou retirá-lo do TSE, alegando que o documento teria sido assinado por ela sem que o tivesse lido com mais cuidado. Retirou o plano, mas deixou o grilo na cabeça dos que ainda a têm. Pois o plano, com todas as medidas radicais citadas e outras mais, faz parte do receituário governamental do seu grupo partidário. Da mesma candidata, todos ouviram sua afirmação de ter destinado ao metrô de Belo Horizonmte, quando ministra da Casa Civil, verbas que dariam para a ampliação das linhas atuais. Na verdade, o nosso pobre metrô de superfície não cresceu nem dez centímetros em todo o período lulista na presidência. A declaração não configuraria uma publicidade enganosa?
NEM o candidato a vice do grupo contrário escapa de afirmações apressadas e graves, no dia seguinte remendadas com nova versão. O sr. Índio da Costa, vice de Serra, foi infeliz ao dizer que o PT estaria envolvido com o narcotráfico praticado pelas FARC colombianas.Na verdade, ao que se sabe, o envolvimento é apenas com as FARC, não com o narcotráfico. O desdisse do dia seguinte não apaga os efeitos do que disse no dia anterior, prejudicando a campanha do seu candidato à presidência.
DIANTE de tanta falta de respeito à verdade, às leis, aos poderes constituídos, não se pode estranhar que os exemplos lá de cima contaminem os que estão mais abaixo. Alguns, muito mais abaixo. Como é o caso do inquérito policial que investiga a morte de uma pobre moça leviana que teve um caso, e supostamente um filho, com um famoso jogador de futebol do time mais popular do Rio. No inquérito, ninguém diz coisa com coisa. Nem o principal acusado, nem suas várias mulheres, namoradas, amantes, nem seus comparsas, nem seus advogados, nem as testemunhas. A mentira virou instituição. Os golpes, as trapaças supostamente jurídicas impedem a apuração perfeita do que aconteceu com a moça leviana.Testemunhas se recusam a colaborar com os delegados que investigam o caso. Ficam em silêncio, que só pode ser entendido como confissão de culpa, mas que não encontra punição necessária na legislação processual penal. Um advogado, sensacionalista, famoso pelo toque circense que dá às defesas que já fez, conseguiu juntar todos os envolvidos como clientes de seu escritório. Comanda o projeto de absolvição do principal acusado com mão de ferro, instituindo a lei do silêncio e permitindo apenas declarações eventuais destinadas a confundir, previamente combinadas e decoradas. Nenhum respeito pela verdade dos fatos, pelo interesse público de tudo apurar e esclarecer, de se fazer justiça. Pistas falsas são encaminhadas aos delegados, que perdem tempo esvasiando lagoas, quebrando paredes, escavando montanhas, à procura do corpo da vítima. Vítima que também, por mágicas certamente inventadas pelos defensor dos envolvidos, continuaria, mesmo evidentemente morta, a fazer compras no comércio carioca com seu CPF pesquisado por lojas. Defesa hábil e criativa, que manda suspeita cassar sua procuração, contratar outros advogados, com a missão de afirmar que a vítima, que teria morrido no dia 9 de junho, foi vista por ela, viva, inteira, no dia 10, tumultuando ainda mais a apuração da verdade.
ASSIM, senhores do conselho de sentença, caminha o nosso Brasil neste século que deixa prever dias piores, se não surgir um poder maior que restabeleça a ordem, a correção, a honestidade, o respeito às leis e à verdade. Está difícil.
Blog: fabiopdoyle.zip.net
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