quarta-feira, 1 de junho de 2011

Publicado no Jornal Estado de Minas em 01.06.2011





OPINIÃO
Razão e emoção
 
Roberto Luciano Fagundes - Presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas
 
Depois que a Prefeitura de Belo Horizonte se manifestou favoravelmente ao projeto de revitalização do Mercado Distrital do Cruzeiro, elaborado por uma construtora e apoiado pelos comerciantes do mercado e por uma associação de moradores, a polêmica sobre a sua destinação, que já vinha de dois ou três anos, acentuou-se. Não vejo, porém, razões objetivas que a justifiquem, pois é visível, na sua origem, um componente passional que tende a transformar um debate que deveria ser rotineiro num confronto entre emoção e razão, colocando em xeque uma oportunidade, ímpar, de nossa cidade avançar mais um passo na sua consolidação como polo do turismo de negócios e eventos

O projeto, que tive oportunidade de conhecer, mantém todos os feirantes, mas também cria espaços comerciais. Também impede a sua progressiva decadência, pois serão ampliadas as suas possibilidades de utilização: ele deverá abrigar um grande centro gastronômico, dois hotéis, salas de reuniões e um salão multiuso, estacionamento com quase 2 mil vagas (que, paralelamente, atenuará um antigo problema da região) e inclui a revitalização e preservação do Parque Amilcar Vianna Martins – uma grande atração turística que, no entanto, é pouco conhecida na capital.

Há ainda dois pontos a destacar: primeiro, o fato de o projeto ter como modelo a bem sucedida experiência do Mercado Municipal de São Paulo, que, depois de sua revitalização, incorporou-se à cidade como uma de suas maiores atrações turísticas. Em segundo lugar, as mudanças projetadas não vão onerar o contribuinte, pois os investimentos serão feitos por meio de parceria público-privada.

No cerne da questão, portanto, está o papel do empreendimento no desenvolvimento do turismo, atividade habitualmente considerada como uma vocação da capital, mas que não o é exatamente: nosso turismo não deriva apenas de aptidões, mas, principalmente, da imperiosa necessidade. Belo Horizonte é uma cidade cujo perfil econômico sempre concentrou-se em comércio e serviços. Indústria e agronegócio aqui não são, até por limitações geográficas e urbanísticas, atividades capazes de suprir os cofres municipais com receita para que a administração pública atenda às demandas da população.

É neste contexto que o turismo aqui encontrou ambiente propício para se desenvolver. Durante muito tempo uma vocação apenas latente, o negócio do turismo só começou recentemente a ser percebido como a alternativa mais viável, se não única, para dar sustentação ao desenvolvimento da cidade. Não é difícil entender a razão. O turismo ativa uma extensa cadeia de atividades, que inclui comércio, hotelaria, restaurantes, bares, cultura, transportes e até o engraxate da esquina. Exerce portanto um papel de catalisador, de multiplicador. São inegáveis os avanços já alcançados, como o Expominas, o aeroporto internacional de Belo Horizonte (Confins), os voos internacionais diretos que dele partem e nele chegam, a expansão da rede hoteleira. Há, porém, muita coisa que precisa ainda ser feita. Nossa capital, em que pesem os esforços dos agentes públicos e da iniciativa privada, continua não tendo espaços adequados para abrigar megaeventos com 4 mil, 5 mil participantes. Em sua rede de hotéis não há uma única bandeira internacional, daquelas que o turista de qualquer parte do mundo é capaz de reconhecer imediatamente. Ainda é comum, quando há dois ou três eventos simultâneos na cidade, a falta de leitos. A infraestrutura de transportes é precária.

Em suma, há muito o que fazer, e é nesse contexto que o projeto de revitalização do Mercado Distrital do Cruzeiro precisa ser percebido como uma maneira objetiva de avançar, de dar mais um passo rumo ao fazer – e não ao tolher. Não se pode esquecer que Belo Horizonte precisa se preparar para, daqui a dois anos, receber os turistas que a Copa do Mundo trará. E, mais ainda, para sermos capazes de atraí-los de volta, pois só assim transformaremos esta enorme e rara oportunidade em avanços capazes de se sustentar no futuro. Se não o fizermos, da Copa pouco nos restará além da lembrança.

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