quinta-feira, 2 de junho de 2011

PROJETO TABLET ESTÁ RUINDO

Por Aleluia, Hildeberto


Uma das fronteiras que a internet precisa ultrapassar, apesar dos seus múltiplos avanços, é o problema relativo à filtragem das informações. Esse, hoje, é um dos seus principais obstáculos e, em alguns aspectos, crucial. Ao realizar a pesquisa de um determinado assunto em qualquer site de buscas, as opções apresentadas são infinitas. Muitas irrelevantes, desnecessárias mesmo. O trabalho da filtragem, a perda de tempo, a dificuldade com a banda larga, em alguns lugares do país e a infinidade de possibilidades, chegam a ser um desestímulo para quem procura. Aqui e ali surgem inovações, como sites aglutinadores ou blogs com determinados assuntos específicos. Mas a difusão ainda é incipiente, confusa e não massificada. Encontrar esses caminhos não tem sido fácil. É tão difícil uma solução quanto tem sido para a velha mídia encontrar o rumo exato para continuar existindo dentro de suas estruturas empresariais no modelo original.
O jornal americano The New York Times já tem até data para deixar de publicar o exemplar impresso. Agora mesmo foi derramado um imenso balde de água fria no projeto dos tablets como solução para a mídia impressa. O primeiro a perseguir esse caminho foi o bilionário Rupert Murdoch, o australiano dono do maior conglomerado de mídia do mundo. Ele investiu pesado na busca de um modelo de jornal e revista para o tablet diante da aterradora possibilidade de morte das publicações impressas. Chamamos de tablet a nova engenhoca eletrônica que alguns chamam de e-Book, ou kindler, ou o iPad da Apple.
 Em síntese, é uma tabuleta eletrônica destinada a substituir o computador. Mais leve que um laptop e sensível ao toque é considerado pela indústria da mídia como a alternativa ideal. No Brasil, a indústria eletrônica estima que sejam vendidas 400 mil unidades neste ano de 2011. Murdoch achou o novo caminho, fez o lançamento e foi imediatamente copiado no mundo inteiro, inclusive aqui entre nós. Confortável para a leitura de jornais e revistas, bonita e de excelente qualidade visual, a fórmula encontrada parecia ser a solução definitiva para a substituição dos velhos impressos. Mas esqueceram de combinar com os leitores. Aqui no Brasil vários jornais e revistas aderiram ao projeto com sucesso, não às assinaturas. Qualquer assinante de determinado jornal tem acesso automático ao modelo do tablet. O que parecia ser a redenção da mídia impressa já emite sinais de naufrágio. O lançamento foi realizado nos Estados Unidos com o jornal The Daily. Imediatamente os leitores aderiram e as assinaturas prosperaram.
A alegria durou seis meses. Nos últimos dois, o número de assinantes vem caindo assustadoramente. Os prejuízos batem na casa dos 10 milhões de dólares. O leitor americano voltou ao ponto de partida: buscar na internet a notícia de graça. Teremos que esperar por um tempo indeterminado para termos uma prova definitiva do avanço de uma ou outra iniciativa. Em terras brasileiras, também, a internet continua absoluta na preferência dos leitores e a cada dia vai solapando os alicerces da velha mídia com a diminuição das tiragens impressas e a queda da audiência no sistema televisivo. A publicidade destinada à internet andava estagnada. Seu volume de faturamento nos grupos de mídia aqui no Brasil não conseguia ultrapassar os vinte por cento da receita global das empresas e, desde o ano passado, passou a seguir a tendência mundial, ultrapassando a casa dos trinta por cento, ou seja, de cada um real de faturamento com publicidade, dos grupos de comunicação, mais de trinta por cento estão indo para a internet. Sobe numa escala impressionante o número de acessos gratuitos aos portais de notícias.
O site de notícias www.claudiohumberto.com.br tem mais acesso que as tiragens dos 37 jornais onde sua coluna é publicada diariamente no Brasil inteiro. Diante desses fatos, o principal grupo de mídia do Brasil, as Organizações Globo, anunciou, no mês de abril passado, investimentos na criação de sete portais de notícias, nos sete principais Estados brasileiros: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Ceará e Distrito Federal. Chama a atenção um detalhe especial que no futuro mudará a cara empresarial da mídia no país. Esses portais serão regionais e até onde se sabe não contam com a participação acionária dos atuais concessionários que retransmitem a Rede Globo de Televisão nos seus respectivos estados. Isso pode significar que cada um vai lutar pelo seu pedaço sozinho.
Outra evidente conclusão a se tirar dessa iniciativa é a inequívoca preferência do internauta por mais notícias regionais, mais informações do lugar onde ele vive. Ainda não temos os números globais, mas a proliferação de blogs e sites regionais e locais, no Brasil, é ascendente e impressionante. Uma busca qualquer com apenas os nomes de cidades retrata de forma assustadora essa descoberta. Como exemplo a cidade de Barra do Rocha, sul da Bahia. Com população urbana de cinco mil pessoas possui dois blogs de notícias. Considerando a iniciativa pioneira e as dificuldades inerentes a quem vive em cidade pequena, provinciana, do interior, onde jornais e revistas não circulam e o índice de leitura é baixíssimo, o blog www.orgulhobarrochense.blogspot.com é digno de nota.
Sozinho, o pioneiro Lauro Elísio Medrado, que nem jornalista é, realiza um trabalho inteligente e informativo, reportando e retratando a realidade da sua comunidade, mesclando com informações regionais e nacionais e até internacionais. Com o suporte do You Tube, de outros blogs, das agências de notícias e de fotos feitas a partir de um celular, ele mantém a comunidade atualizada e participativa. Chega ao impressionante número de mil e quinhentos acessos dia. Seu blog tem muito mais acessos que a audiência das rádios comunitárias da região. É um sucesso. Essa é uma das caras novas da mídia do futuro. Como não há um modelo de negócio, por enquanto o projeto não gera faturamento, nem lucro. Mas é questão de tempo.

Chegarão lá.

Aleluia, Hildeberto é jornalista. (http://aleluiaecia.blogspot.com)

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