quarta-feira, 22 de junho de 2011

AS MULHERES OBEDIENTES DA MALÁSIA

Por Aristóteles Atheniense
 
A escritora belga Marguerite Crayencour, que ficou conhecida pelo pseudônimo de Marguerite Yourcenar, tendo sido a primeira mulher a ingressar na Academia Francesa de Letras em 1980, sustentou que a liberdade das mulheres de hoje é maior ou pelo menos mais visível do que a dos tempos antigos.
       Foi educada de maneira excepcional: lia Jean Racine com oito anos de idade, quando seu pai ensinou-lhe o latim e grego aos doze.
          No seu modo de ver, a condição das mulheres é determinada por estranhos costumes: elas são, ao mesmo tempo, dominadas e protegidas, fracas e poderosas, excessivamente desprezadas e excessivamente respeitadas.
           O teatrólogo Joracy Camargo sustentava, ironicamente, que, em geral, o homem finge que conquista e a mulher finge que se deixa conquistar.
         Esses conceitos não chegaram à Malásia, onde foi lançado, na última semana, o “Clube de Esposas Obedientes”, num país onde muitas mulçumanas ocupam cargos de relevo no governo e nas empresas.                  A finalidade da instituição, em princípio, seria combater a prostituição e o divórcio e, secundariamente, ensinar as mulheres a serem submissas aos seus maridos, tornando-os mais felizes no relacionamento conjugal.
         O fato que mais concorreu para a criação do inusitado clube foi o alto índice de divórcios, que dobrou de 2002 a 2009, tornando-se o mais elevado entre as nações mulçumanas.
         Em entrevista concedida à Associated Press, em Rawang, a jovem esposa Ummu Atirah, de 22 anos, definiu que o segredo de um casamento feliz consiste em obedecer ao seu marido e assegurar a satisfação sexual dele. Segundo a jovem esposa, “o Islã nos impõe ser obedientes a nossos maridos. O que meu marido disser, devo fazer. Se eu não o fizer feliz será um pecado”.
         O novo clube foi fundado por um grupo islâmico, sofrendo retaliações de políticos progressistas que o consideram um retrocesso aos tempos medievais.
      A ministra da Política Familiar da Malásia, Shahrizat Abdul Jalil, criticou a nova agremiação por entender que “lamentavelmente, ainda hoje, há muitas mulçumanas que desconhecem os seus direitos ou são demasiado inibidas culturalmente, para exercê-los plenamente”.
        Essa colocação foi repelida, em termos incisivos, por Rohayah Mohamad, uma das fundadoras da nova entidade, ao afirmar: “O sexo é tabu na sociedade asiática. Nós o temos ignorado em nossos casamentos, mas tudo depende do sexo. Uma boa esposa é uma boa trabalhadora sexual. O que há de errado em ser uma prostituta para seu marido?”
    Como se vê, a Malásia, embora sendo um país em franco desenvolvimento no Sudeste Asiático, contrapõe-se ao entendimento de que é através da desobediência e da rebelião que se faz o progresso e dos insubmissos tem emanado todo o progresso social, pois a insatisfação é o primeiro passo para o desenvolvimento de um homem ou de uma nação.
        Na concepção de Franklin Roosevelt, que instituiu o “New Deal”, “há várias maneiras de ir à frente e uma só de ficar parado”.
       A solução encontrada pelas mulheres islamitas, na busca da felicidade marital, ainda que excêntrica, haverá de despertar a curiosidade nas várias partes do mundo pela sua originalidade. Mas importará, também, em um subdesenvolvimento social, numa fase em que as mulheres assumem posição de destaque nos mais diversos setores, concorrendo, decisivamente, para a evolução da humanidade.

Aristoteles Atheniense,
Advogado e Conselheiro Nato da OAB
Twitter: @aatheniense

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