O espaço de eventos da Unimed-BH, à Rua dos Inconfidentes, 44 foi o local da solenidade de entrega prêmios aos participantes selecionados do Edital Instituto Unimed-BH de Literatura, projeto que foi realizado em parceria com a Academia Mineira de Letras, no dia seis de outubro do ano corrente.
Sucesso total! 42 contos inscritos, entre os quais 10 form selecionados para compor uma publicação especial.
O evento contemplou os presentes com a palestra "O Médico Escritor", ministrada pelo professor titular de Clínica Médica da UFMG e criador do Centro de Memória da Medicina de Minas Gerais, João Amilcar Salgado, além de prestigiar os colegas que tiveram seus contos publicados. Após a palestra, um coquetel foi servido aos presentes, durante o qual os autores autografaram o livro.
Os selecionados que tiveram seus contos publicados e respectivos títulos: Sérgio Edriane Rezende, Deságua; Maria Emília Darwich Apgáua, Trocados; Ulisses Campanha Parente, Tapirapé, o caminho da anta; Aurélio Magalhães Neto, Coragem; Ana Paula Almeida de Mello, A Casa dos Guedes; Gustavo Vieira Gualberto, Bem-aventurados os seguidores do Twitter; Wilson de Souza Lima, Aula Inicial; Naider Alves de Freitas. As sombras sabem para quem aparecem;Elizabeth Regina Comini Frota, A segunda vida e Carlos Eduardo Martins Magalhães, Você acredita em macumba?.
Capa do livro |
Os médicos autores |
A médica oftalmolofista, Maria Emília Darwich Apgáua, autografa o livro |
Dras. Ana Almeida de Mello, ginecologista e Maria Emília Darwich Apgáua, oftalmologista |
Trocados
Por Maria Emília Darwich Apgáua
O
cão e o homem viviam por ali, ninguém sabe desde quando. Surgiram não se sabe
de onde, se integraram ao cimento da calçada pouco se diferenciando na cor, o
homem em andrajos, idade indefinida, o cão acinzentado, parecendo trazer um
pouco de jovialidade a dupla.
Moravam
na esquina, simbióticos, se aquecendo sobre um pedaço de papelão, embrulhados
em plástico preto à noitinha e perambulando pelo bairro durante o dia, que era
vencido amealhando um café, restos de alimentos dos bares e dos muitos
restaurantes daquele bairro. Inseparáveis, primeiro o homem alimentava o cão,
depois a
si.
O
cão não tirava nunca os olhos dele, absorvendo cada mínimo gesto do homem, num
elevar de orelhas ou num
agito da cauda, vigilante.
Os
vizinhos os ignoravam. Eram
parte da rotina da
paisagem urbana, iguais a outros, que vinham e iam, sem deixar marcas. Raros
tinham gestos solidários, primeiro pelo cão, depois pelo homem. As
crianças olhavam com curiosidade e medo, primeiro
o cão, depois o homem.
Em
dias de chuva, se encolhiam debaixo de alguma marquise e retornavam depois a
mesma esquina, mesma vida, existindo sem existir, invisíveis incômodos.
Quem
passava e prestava atenção, ouvia a voz sussurrada e grave do homem a falar com
o cão, narrando fatos e pessoas, fragmentos de sua história com nomes e sempre
se escutando datas, mas ele se interrompia quando percebia estar sendo
escutado, ficando em uma mudez desconfiada.
Às vezes eles
sumiam alguns dias, parece que
voltavam menos encardidos, menos magros, mais
mudos e novamente
compunham a paisagem da esquina, como o meio fio e a árvore.
Os
olhos castanhos de ambos corriam de transeunte em transeunte, discretos,
baixos, displicentes, observadores.
Súbito,
uma criança que vinha
pela mão de sua mãe se
desgarrou num minuto de distração e atravessou desarmada a esquina e o meio
fio. O homem viu e se atirou, para
empurrá-la de volta, num grande salto que assustou o cão. A
criança tropeçou, alcançou o passeio, mas
o homem ficou entre as rodas do carro, inerte. O
cão veio se postou ao seu lado, sem lhe tirar os olhos, tão
inerte quanto ele.
Chamaram
a ambulância, que
levou o homem, deixou o cão. Ele
tentou em vão segui-los e, pelo
retrovisor, o motorista
o viu diluir-se no caminho.
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