[Resenha]
Por Marcio Salgado
A internet
está promovendo a maior revolução a que o mundo já assistiu, com reflexos na
vida cotidiana e nas mais diversas áreas do conhecimento humano. “O futuro da
internet: o mundo da dúvida” (Topbooks, 2014), do jornalista Hildeberto Aleluia,
apresenta argumentos e exemplos concretos que comprovam essa
afirmação.
Com o
advento da internet, as mídias tradicionais passam por grandes mudanças a fim de
sobreviver, e as consequências são observadas desde já, mas são imprevisíveis
para as próximas décadas. Doravante, o rádio, a TV e o jornal impresso jamais
serão os mesmos.
No Brasil,
de acordo com Aleluia, a internet segue “absoluta na preferência dos leitores, e
a cada dia vai solapando os alicerces da velha mídia com a diminuição das
tiragens impressas e a queda da audiência no sistema televisivo”(p. 58). Essas
mídias tentam se reinventar, em geral recorrendo à própria internet, com
chamadas para os seus sites, blogs e páginas disponíveis em tempo real. A
divulgação das notícias hoje é instantânea e os veículos, mesmo as revistas que
contavam com espaço maior entre uma publicação e outra, tiveram
que se adaptar a essa realidade.
Contudo, em
termos econômicos, todas essas mídias sobrevivem graças ao “modelo do negócio”,
conforme adverte o autor. “Chega a ser um espanto. Um negócio que diminui a cada
dia, apresentar um faturamento cada vez maior”(p. 113). Ele se refere à redução
das tiragens, ao declínio no número de leitores de jornais e revistas impressos,
e à queda de audiência das TVs e rádios. Esses meios ainda dominam o mercado
publicitário, permanecem no topo do faturamento, pois contam om um sistema
comercial bem estruturado.
Na verdade,
há uma briga de titãs entre a internet e as mídias convencionais pela busca de
audiência, a conquista de novos públicos e, sobretudo, pela redistribuição de
anúncios comerciais e aquisição de clientes no mercado. Conforme Aleluia, a
internet vai ganhando os primeiros rounds, tendo golpeado a mídia impressa e
destruído a indústria do disco e do CD.
No campo
teórico as previsões são incertas e bastante polêmicas. Alguns argumentam que as
mídias tradicionais estão vivendo os seus estertores. Outros, como o americano
Henry Jenkins, acreditam numa “cultura da convergência” e numa possível
sobrevivência das velhas mídias. No livro “O futuro da internet”, Aleluia elenca
as diversas opiniões dos autores que expressam essas dissenções, sendo que ele
próprio cita exemplos que indicam o nítido declínio das mídias tradicionais. E
observa que os jornais impressos são uma coisa do passado. Eles têm um futuro
terrível, mas não as notícias. Estas estarão sempre em evidência nas mais
variadas plataformas de comunicação.
Um exemplo
desse conflito atual dos veículos de comunicação é a postura adotada pelos
jornais impressos com relação ao seu público-leitor. Com a diminuição das
tiragens, eles criaram os sites de notícias e passaram a vender assinaturas. Em
seguida estabeleceram barreiras para a leitura grátis, mas a
iniciativa se revelou contraproducente. Aleluia observa que “os sites que
começam a cobrar perdem imediatamente o interessado que se transfere para o
grátis mais próximo”(p. 31).
Sobre a
briga pela audiência entre a internet e as redes de televisão as coisas não são
diferentes: “O You Tube está aí mesmo para tirar o sono da TV”(p. 55). Essa
disputa tem ganhado contornos dramáticos, com as televisões apelando para todo
tipo de expediente a fim de conseguir elevar os índices de audiência.
Citado por
Aleluia, o jornalista espanhol Juan Luis Cebrián, diretor do “El País”,
questiona o futuro que aguardam partidos políticos, sindicatos e os meios de
comunicação no mundo contemporâneo, uma vez que a internet é um “fenômeno de
desintermediação”. Ele argumento ainda que os jornais, tais como os conhecemos,
acabaram, mas isso não significa que deixarão de existir. Os jornais impressos
pertenceram à sociedade industrial, e não estamos mais nela.
Recebeu
particular atenção do autor o tema da inclusão digital no Brasil. Embora
estejamos crescendo no mercado mundial de inclusão digital, isso é motivo
frequente de críticas. Baseado em pesquisas recentes, Aleluia observa que em
comparação com outros países, até mesmo os latino-americanos, a nossa banda
larga é muito cara e ruim. O governo federal criou o Plano Nacional da Banda
Larga (PNBL), mas não conseguiu levá-lo adiante de forma a promover os
resultados esperados. “O brasileiro paga hoje, em média, dez vezes mais caro que
os habitantes de países desenvolvidos”(p. 104).
Outro
aspectos muito discutido entre os usuários da rede de computadores se refere à
invasão de privacidade. O autor observa que os provedores de serviços on-line
constroem dossiês sobre os hábitos dos seus usuários e sabem tudo sobre
eles. Ou seja: tudo que fazemos on-line está armazenado em algum
lugar e pode ser utilizado para o bem ou para o mal, em algum momento. Não é
exagero. De fato, muitos internautas já tiveram problemas com a invasão das suas
contas na internet.
Se costuma
dizer que a internet é um território livre, mas, até pouco tempo, ela era terra
de ninguém, pois não havia qualquer regulação do setor. Só recentemente foi
aprovado no Congresso Nacional o Marco Civil para a internet, que regula essas
questões do mundo virtual e atribui responsabilidades. Não se sabe ainda como
funcionará na prática, porque no Brasil real o que não faltam são leis. Elas
existem no papel, mas em geral não são aplicadas.
Marcio Salgado é escritor e
pesquisador.
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